terça-feira, 13 de novembro de 2012

Você acordou meio cabra hoje?



Ao ler o texto Parada gay, cabra e espinafre de José Roberto Guzzo, ex-diretor de redação da revista Veja, publicado pela mesma nesta semana, um misto de nojo e raiva tomou conta de mim. Não, não... acho que raiva não é a melhor coisa para sentir neste momento. Na verdade, senti pena do autor. Só posso ter pena de alguém que acredita com tamanha veemência naquela quantidade de lixo que foi impresso na revista de maior circulação do Brasil.
Na coluna do referido sujeito, uma série de barbaridades e comparações esdrúxulas são listadas como se ele apenas preparasse um lembrete para ir ao supermercado, sem qualquer atenção aos resultados que tais palavras poderiam gerar. E, como muita gente boa já fez argumentações brilhantes sobre o texto (destaco a do Deputado Jean Wyllys), aqui no dasBancas falaremos do que nos é de direito: revista. Revista e editora. A maior editora da América Latina que permite que sua marca seja associada a tamanho absurdo.
Sim, meus caros, a revista Veja nunca foi o melhor exemplo de idoneidade, nem tão pouco de companheirismo com o Movimento LGBT – sim, caro Guzzo, ele existe –, mas daí a postar-se ao lado de uma atitude tão preconceituosa é um horror. Horror maior ainda é a Editora Abril, que abriga sob seu teto centenas de funcionários gays – eu mesmo conheço vários – permitir que sua maior publicação posicione-se de tal maneira. Sim, existe conselho editorial por aí para quê? Não seria para evitar que argumentos que distanciam-se da verdade da editora não sejam publicados? Não é por causa de tal conselho editorial que os senhores se posicionam tão à direita? Será que os senhores acreditam em todas as palavras escritas por Guzzo? Era isso que eu temia.
Esta mesma editora, apesar de ter em seu portfólio diversas revistas adoradas por homossexuais – vocês sabiam que a Playboy tem uma base de fãs gays ENORME? E a ELLE? E a Boa Forma? E a Nova? E a VIP? –, não oferece nenhum título especializado para este público sedento. Não coloca em circulação qualquer revista que adote uma postura a favor da cultura gay. Sim, ela existe, cara Abril. É uma pena que os senhores não tenham coragem de abrir seus olhos para a beleza que nossa comunidade vem produzindo, ela é tão heterogênea que é possível encontrar amostras de todo tipo de produção artística e cultural. Triste saber que vocês não querem ver.
Esta Editora Abril permite que suas publicações continuem usando o termo "homossexualismo" nas mais diversas matérias. O Nada Errado, blog parceiro do dasBancas, já puxou a orelha do Aran, diretor da Playboy, e ele prometeu não cometer tal erro novamente e nós estamos de olho. Não podemos permitir que a orientação sexual, que é uma condição não opcional, seja designada com o sufixo "ismo", que indicia doença ou tendência ideológica. Ninguém escolhe ser gay, apenas é.
Enfim, é uma pena, em pleno século 21, gastar meu tempo escrevendo sobre um assunto, que como acredita Guzzo, já deveria ter sido superado. Mas é por demonstrações públicas de homofobia, como as publicadas na Veja, que centenas de jovens morrem todos os anos, que outros vários são vítimas de agressões gratuitas e que outro sem número de desesperados optem por se matar.
Cara Editora Abril, cara revista Veja, sinto-me envergonhado por ter falado de vocês por 4 anos aqui no dB – ainda bem que morro de orgulho de ter eleito como melhor capa de 2011 uma da Trip com um beijo gay estampado, de ter publicado o manifesto do beijo da Junior, ou as brilhantes capas da extinta Sui Generis. E, além disso, sinto pena de seus funcionários LGBT que não poderão chegar amanhã às redações vestindo uma máscara de cabra, que se envergonham de estar sob o mesmo teto de gente que pensa dessa maneira tão pobre. 
É uma pena que eles ainda precisem de vocês para continuar seguindo a vida. Ainda que como espinafres, ou cabras.

8 comentários:

Mariana disse...

Belo post, pessoal, parabéns! Citei vocês aqui, para ampliar ainda mais a discussão: http://www.facebook.com/modesign.rio/posts/514494928560603?notif_t=like

Jean Cândido disse...

Pedras nas mãos???então vamos lah...

se olhar com uma ótica bem ampla tá situação, como olhei, vi que o cdadão falou várias verdades em seu texto. E isso se aplica não só aos homossexuais, ma também aos negros, pobres, entre outros "comunidades" qeu não deveriam existir, do ponto de vista de que todos são cidadãos e fazem parte de um só grupo!

ele pode ter sido infeliz em algumas comparações, como a da cabra, mas ele queria exemplificar a banalidade do assunto na ótica de vista dele.

Não achei preconceituoso, no sentido marginal da palavra.

Não há uma verdade nesse texto, e sim várias interpretações. Talvez eu não tenha interpretado de uma forma tão negativa como a que você interpretou, acho que cabe a maneira que você quer interpretar.

Não tô certo nem errado. Você não tá certo nem errado. Ele ão tá certo nem errado.

Raullzito disse...

Gente, em terra de Revista Veja, quem faz a Cátia Cega é rei/rainha/drag queen.

Veja, já deu.

Bruno Souto Maior disse...

Falou e disse Thiago! Apoiado!

Thiago Muniz disse...

Jean, adoraria saber quais foram as verdades ditas no texto.

Grato.

GnER disse...

Fazia tempo que não comentava, mas n posso deixar de te parabenizar Thiago pelo texto!

Obrigado!

We Love Terry disse...

Méééé!!!!

Gabriela disse...

Ótimo complemento a tudo que já foi dito sobre aquele texto horroroso. Muito bom.

Postar um comentário | Feed



Blog Widget by LinkWithin
 
^