segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Um pouco de história do design

Sempre acreditei que fazer revistas ia além do ato de encadernar páginas. Por isso, decidi estudar Desenho Industrial com Habilitação em Programação Visual, nome pomposo para o tal Design Gráfico. Acabou que o mundo deu voltas, o tempo passou, minhas idéias mudaram, e hoje, o que menos faço é design de revista. Não construo grids, não penso em capas, não numero páginas. Nada disso faz parte da minha rotina, que está mais próxima do design promocional e corporativo. Marcas e sensações fazem parte do meu dia. E eu adoro isso!

exposição pouca é bobagem...
(clica para ampliar)

Não é por que me afastei do design de revistas - sim, já fiz alguns projetos - que deixei de apreciá-las, observar e criticar. Taí o blog como prova e como incentivador de pesquisas e olhares menos superficiais. Toda a bagagem adiquirida durante a faculdade transborda por aqui, e hoje, vou falar justamente de uma das revistas que mais gosto - conheci na faculdade - e infelizmente não tenho nenhum dos números. A incrível e insuperável Ray Gun.

algumas capas - notem que o número da edição era usado por eles, e foi aplicado no Trip

Provalmente, a grande maioria nunca ouviu falar dela, mas já sentiu seus ecos em milhões de outros projetos. O designer-surfista David Carson mudou um geração e construiu uma nova estética para o design. Influenciado pela cultura grunge da década de 90, pelos trabalhos de Nevile Brody e pelo mundo em que vivia, David desconstruiu tipos, reinventou a composição e incluiu milhões de tons e texturas no mundo fotográfico. Estava aberta a temporada de letras ilegiveis e filtros sobre fotografias.

Beach Culture - o começo da desconstrução

O projeto mais memorável de Carson é a Ray Gun, uma revista balizada em música, arte e estilo de vida. Uma coisa muito próxima da Trip - que merece um parágrafo próprio logo a frente. Na Ray Gun, o design "Não Canônico" foi usado exaustivamente, cortes absurdos, parágrafos destruídos, letras enormes ou minúsculas. Tudo era possível, tudo se justificava dentro de um projeto sem amarras, sem grid, mas com muita personalidade e ousadia. Exatamente o que os jovens da época esperavam e como o próprio Carson havia anunciado na Beach Culture - revista em que trabalhou.

páginas aleatórias

assim é que se abre uma matéria...

A Ray Gun não durou muito, foram 60 números lançados entre 92 e 2000, e no decorrer desses anos muitas ousadias foram abandonadas, a revista precisava enxugar seu estilo que já não era tão coerente com a época. Mas mesmo assim, deixou seguidores que até hoje usam e abusam da desconstrução proposta por Carson. O que nem sempre gera bons resultados.

um pouco do estilo Carson, que tanto é copiado

No Brasil, a Ray Gun refletiu na Trip, que sofreu, em 1997, redesign pelas mãos de David Carson, e absorveu um projeto extremamente poluído, complexo e mal compreendido pelos brasileiros, que logo foi abandonado. Sobram desse projeto a marca e alguns pequenos maneirismos gráficos, que estão cada dia mais raros.

expediente e índice. Sim, este é o índice da revista...

O motivo de adorar é Ray Gun é simples: só quem sabe fazer design/revista muito bem, é capaz de descontruir o objeto dessa maneira e ainda torná-lo crível e vendável. Só sendo muito bem posicionada para colocar uma matéria inteira com dingbats (aquelas fontes com desenho), pelo simples fato de tê-la achado enfadonha. Ou então, cortar as palavras e parágrafos que bem entendesse do texto. Tudo isso refletia o espírito contestador e irresponsável de uma geração que se formava.

ler? para quê? O importante é ver...

Muitas dessas imagens foram encontradas neste blog, que conta um pouco da história da Ray Gun.

5 comentários:

Equipe dasBancas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Equipe dasBancas disse...

Achei bem doido.
Sempre curti esse anarquismo da Trip, adorei saber de onde vem.

Só essa coisa se "ler pra que" que não dá. Me remete a picaretagem das brabas.

Olha eu defendendo a galera do conteúdo X design.

Ulisses Wermelinger disse...

Era uma puta revista a ray gun, assim como a dazed & confused foi, elas surgiram extamente quando os softwares como o photoshop abraçaram de vez os layers e deu uma guinada nas coisas. o problema é que qdo vc ve elas hoje o design fica extremamente datado.A trip sempre deixou clara a influencia, da Ray Gun, inclusive na primeira edicao que tem a Ira Barbieri cita a revista.A trip em si, sempre foi revista de playboy doidao em termos de conteudo, o que da preguica. Tinha na epoca tb a Bikini ou Bikini review, nao lembro, seguia a linha da Ray gun.

vitor barba disse...

saudoso carson na trip... saudosa trip...
deixo a maluquice de warhol para morrison e seu telefone para falar com deus... mais instigante as coisas jo jeito que elas nascem... aleatórias mesmo...

vitor barba disse...

só uma coisa a mais: quando a ray gun cortava as palavras e parágrafos, estas faziam sentido serem cortadas, pois eram palavras chaves ou informações importantes que fazia você pensar no texto... um recurso carsoniano para leitores preguiçosos não comprarem a revista... não era aleatóriamente ou somente um recurso visual...

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